Já ouviu falar sobre Arte Tumular? Sabe o que é? No artigo de hoje, “O que é a Arte Tumular”, vamos explorar esse assunto que é tratado ainda, infelizmente, com muito preconceito e superstição. Bora lá? 🪦
O que é a Arte Tumular?
1. Definição e conceitos
Arte tumular é toda a expressão artística que está contida nas necrópoles, ou famosos, cemitérios. Esse tipo de arte não costuma ser muito apreciada pois está presente em um local de tristeza e sofrimento. Porém, os familiares que ficaram, procuram expressar sua dor e luto na forma artística, produzindo obras com significado profundo e que ficará, então, registrado ao longo dos tempos.
Na arte tumular, além de muitas histórias de vida e amores, há também a presença dos nossos ancestrais, aqueles que viveram no mesmo local que nós, porém em outro tempo e que deixaram seus costumes e forma de ver a vida registrados nessa arte.
Quando decidimos estudar as esculturas tumulares, resgatamos a história contida nessas obras, entendendo sua formação, os materiais utilizados e além de tudo, podendo, então, admirarmos a forma de expressão no momento da dor. Tratar o assunto sem preconceito é substancial e deixar as superstições de lado também abre espaço para apreciar algo deixado, então, de lado pela sociedade.
Alguns conceitos para abordar essa arte são, portanto, importantes:
Necrópole: cemitério
Túmulo: local onde apenas um corpo repousa;
Jazigo: local onde vários corpos estão descansando. Geralmente uma família adquire um jazigo para colocar os corpos dos entes da família que se foram;
Mausoléu: toda a arte localizada acima do jazigo. Há presença de esculturas, imagens, fotografias, flores, revestimento de pedras, mármores ou granitos.

Mausoléu presente na Necrópole São Paulo. Créditos da imagem: Gisella Grazioli.
2. Minha experiência com a Arte Tumular
Recentemente tive a rica oportunidade de fazer um passeio turístico e conhecer as histórias do subterrâneo da Necrópole São Paulo, o cemitério localizado na Rua Cardeal Arcoverde, em Pinheiros.
Quem me conhece sabe que tenho um gosto um pouco peculiar por livros de suspense ou crime e que o assunto da morte é um grande dilema em minha vida: tenho muito medo, porém me atraio por assuntos artísticos que exploram esse assunto.
Então adquiri ingressos para o famoso “tour no cemitério”, com um pouco de espanto por parte do meu esposo. Ele achou esquisito, porém aceitou me acompanhar! Confesso que não imaginava o que iria encontrar por lá, sabia que falaríamos de arte, mas não imaginava a quantidade de histórias e ensinamentos que um lugar, considerado, “morto” e o “reservatório de corpos sem vida” poderia me proporcionar.
O tour é realizado por pesquisadores e estudantes desse tipo de arte. É um passeio sério, realizado com muito respeito e extremamente rico em histórias profundas. A qualidade das obras é impressionantes, com riqueza de expressão e rica em detalhes, que nos transmite a dor e a tristeza daqueles que ficaram enquanto seus amores partiram.

Um registro fotógrafo do início do tour na Necrópole São Paulo, realizado em Nov/24. Créditos da imagem: equipe do tour “Necrópole São Paulo e suas Vozes”.
3. Mais detalhes sobre o tour na Necrópole São Paulo
Nosso tour começou com um encontro na entrada do cemitério. Grupos de pessoas iam chegando, algumas até levando crianças. Percebi que eu mesma, estando ali para vivenciar o encontro turístico, também estava com preconceitos e alguma superstição. Pensava eu, como será que o passeio será conduzido? Será que vamos falar só de histórias de terror ou de medo? Vamos abordar como essas pessoas morreram? Será que vamos ficar com medo? Quanto engano meu! Acredito que esse seja o pensamento das pessoas que não conhecem o passeio e o tanto de estudo e dedicação que esse tipo de arte abriga.
Logo nos primeiros minutos já entendi que a proposta era muito mais séria e importante que eu havia tentado imaginar. História viva naqueles jazigos e mausoléus a nossa frente. História de famílias e do tempo em que viveram traduzido nos materiais usados, nos tipos de arte produzidas. Aprendi tanto! Foi tão enriquecedor..
Portanto, vou agora listar algumas visitas que realizamos e que são muito dignas de serem reproduzidas e espalhadas por aí:
O último adeus:
Essa é a história da Maria e do Antônio Cantarella, imigrantes italianos. Na antevéspera do natal de 1942, Antônio se foi, deixando Maria desolada e perdida. Durante seu longo processo de luto, Maria encomendou de um artista da época, Alfredo Oliani, uma escultura que representasse seu sofrimento. Maria pediu para que ele a representasse sem vida, com Antônio lhe dando um último beijo, Antônio sendo representado como um homem com vigor físico e em ótimo estado de saúde. Essa inversão de papéis, traduzia de forma muito simbólica o sentimento de Maria: era ela quem realmente tinha morrido quando o marido a deixou, era ela quem sofria e quem gostaria de ter partido em seu lugar. Era ele quem continuava vivo na vida dela e ela que perdera a vontade de viver.. A obra é linda, com riqueza de detalhes e cheia de simbologias que tocam o coração.
Esculpida em bronze e toda sua base de mármore negro, com os dizeres “Ultimo Adeus” faz da obra um primor artístico. Maria faleceu muitos anos após esse acontecimento, e foi enterrada no mesmo local, junto ao esposo, onde descansa ao lado dele até os dias de hoje 🥹❤️.

Registro realizado por mim da obra “Último Adeus”, de Alfredo Oliani, no jazigo da família Cantarella. Necrópole São Paulo, Nov/24.
O Mausoléu do ator:
Na década de 50 era uma prática construírem jazigos de grupos de profissionais para que descansassem juntos após a sua partida. Não foi diferente com os integrantes da cena artística. Criou-se o mausoléu do ator e nele estão descansando vários atores e outros profissionais que trabalhavam nessa cena: bailarinas e iluminadores.
A obra consiste em uma grande cortina de teatro fechada, simbolizando o final da peça e da vida daqueles que ali repousam. Outra obra que carrega os costumes e a história da época daqueles que, então viveram antes de nós.. 🎭

Registro realizado por mim do Mausoléu do Ator, na Necrópole São Paulo. Nov/24.
Túmulo do pão:
Essa é outra obra que me tocou bastante nessa Necrópole. Uma família formada pelo pai, mãe e filho sofreu a perda da mãe, restando em seu lugar, um grande vazio impossível de preencher. A família enlutada, então, encomendou a obra “Túmulo do pão”, formada por uma grande mesa, talhada em bronze. Nela estão sentados o pai e o filho, com grande desolação, amargando a falta da provedora da família. Sobre a mesa, um pão ainda não fatiado, mostra que aquela que ocupava o papel do afeto e cuidado não estava mais ali, nem para cortar o pão e cuidar da alimentação da família, nem para nutrir a todos de amor e cuidados.
Durante a pandemia, o pão, infelizmente, foi subtraído da obra, assim como a cadeira vazia que pertencia a mãe falecida.

Registro realizado por mim no “Túmulo do Pão”, localizado na Necrópole São Paulo. Nov/24.
O que você achou desse conteúdo?
À primeira vista, um tour pelo cemitério soa como algo desrespeitoso e cheio de superstição, porém o desconhecimento sobre a rica obra de arte e história contida nos cemitérios das cidades são vastas. É importante darmos significado ao que realmente representa toda a arte que está exposta por lá: as famílias enlutadas gostariam de deixar registrado, então, seu sofrimento naquele momento e é a ele que estamos dando real valor.
Além disso, o conhecimento histórico contido nos cemitérios espalhados na cidade contam a história sobre nossos ancestrais que viveram no mesmo local onde estamos, porém em outros tempos, deixando registros de suas vidas que também influenciam as nossas, atualmente.
Se você, então, quiser acompanhar mais sobre esse assunto, siga nas redes sociais dos idealizadores desse projeto. Garanto que você vai se surpreender com tanta coisa nova que há pra se aprender nesse tema! Então, bora se despir de preconceitos e abrir os olhos para aquilo que é deixado de lado? Boa leitura sempre! 🎹💀
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Muito bom, aprendi muito.
Muita gente ainda tem preconceito com arte tumular, mas é bom ver uma divulgação como essa promovendo um olhar cuidadoso, reflexivo e respeitoso. Parabéns!
Obrigada pelo carinho Alisson! Fico feliz que tenha lido e gostado! É um assunto importante, bastante negligenciado, que precisamos discutir! Se tiver dicas de conteúdos para que eu possa postar, me manda! Prometo me empenhar!
Abraços!
Gisella
Muita gente ainda tem preconceito com arte tumular, mas é bom ver uma divulgação como essa promovendo um olhar cuidadoso, reflexivo e respeitoso. Parabéns!
Obrigada por comentar no artigo, Maria Clara! Fico feliz que tenha gostado da publicação! Se tiver interesse por outros assuntos e quiser dicas sobre Arte e Entretenimento, continue nos acompanhando!
Com carinho!
Gisella